Bram Stoker's Dracula: when true love makes you live.


Bram Stoker's Dracula é um filme que eu já vi um monte de vezes e que gosto muito. Claro que por essa razão, eu vou tentar explicar a minha paixão por esse filme através da crítica. Este é um filme de Francis Ford Coppolla, de 1992, numa altura em que a carreira dele ficou no auge e a qual já tinha alguns anos de realização. O seu talento já estava consolidado, e acho que isso
se reflete na escolha dos efeitos especiais, na realização e na montagem. Já o guionista estava em início de carreira e talvez por essa razão e também por escolha do realizador, o guião seja simples e pelo que me dá a entender, bastante fiel ao livro. 

Spoiler Alert! - Podem ler à vontade que não vou contar nada que estrague a história.

Plot
O plot deste filme tenta ser fiel à maneira como o livro foi redigido. Ainda não li o livro, mas já o desfolhei e sei que está construído de forma a lermos os testemunhos de diferentes personagens, através de diários por exemplo. Não sei até que ponto o final da história e a forma como se desenvolve são iguais à do livro. 
Temos, ainda assim, um plot cheio de surpresas atrás de surpresas e mesmo o final consegue surpreender. A história é apresentada de forma simples, com uma pequena introdução que ilustra a Transilvânia e a razão pela qual Drácula decide renunciar a Deus e manter-se vivo pela eternidade. Nesta história, Drácula transforma-se num vampiro quando a sua amada morre e fica condenado a viver séculos e séculos. Até que um dia descobre que uma mulher igual à sua amada Elisabetha vive em Inglaterra. Louco por amor, decide rejuvenescer o seu aspeto (bebendo muito sangue e dormindo em terra da Transilvânia) e parte para Inglaterra, onde conhece Mina e sedu-la dizendo que é um príncipe. O noivo de Mina, Jonathan, está encurralado no castelo do Drácula e só passado muito tempo é que o veremos fora da Transilvânia. Entretanto, Drácula ataca a melhor amiga de Mina, Lucy, e Jack chama o Dr. Van Helsing para o ajudar a tratar de Lucy. É Van Helsing quem descobre que os atos foram cometidos pelo Drácula e que decide eliminar o vampiro.
A história em si não foge ao que ouvi desde criança sobre os vampiros e dado que esta é a história que inspirou todas as outras, os elementos tinham de estar. O que não se vê por aqui e que estava à espera de ver era muitos vampiros. 

Personagens
Não vou falar de todas as personagens intervenientes na história, vou só falar daquelas que têm mais destaque pelo papel que têm na história.

Dracula / D. 
A óbvia personagem principal da história, é um ser revoltado e desesperado que está cansado de viver sem amor. Quando descobre Mina, renasce em si a esperança e a vontade de estar com ela é tal que faz tudo o que pode para a seduzir. Fisicamente, ele muda muito, ora aparece como velho, ora é uma espécie de lobisomem, ora é novo outra vez. Psicologicamente, ele não aceita a perda daquilo que gosta, do que quer e procura, mas também sabe que é um ser impuro e que está amaldiçoado, o que o faz sentir-se mal quando Mina o vê pela primeira vez.

Mina
Tem aquele ar de inocente que a torna encantadora. É um ser pãozinho sem sal à partida, puro e inocente, até conhecer Drácula. Lembra a personagem Christine de Fantasma da Ópera, o ser puro e virginal que sente a tentação da luxúria. A atitude que tem no final da história para com o Drácula surpreende-me.




Jonathan
É uma personagem que não parece ter grande relevo em termos de personalidade. É importante como catalisador da história, mas não passa muito disso. O que é pena, porque a parte em que fica preso no castelo poderia ser mais explorada, principalmente porque ele deve ter passado por momentos de loucura e desespero. No entanto, é mais uma personagem pãozinho sem sal, como a Mina, que conhece a tentação da luxúria no castelo do Drácula.


Lucy
Lucy não passa de uma menina rica e mimada, que adora pavonear-se e atrair as atenções dos homens. Não obstante, é insegura e tem o seu quê de inocente (percebe-se melhor essa questão depois de ela ter estado com o Drácula). É uma personagem muito vivaça e espontânea, o oposto da sempre calma Mina.

Jack
O eterno apaixonado por Lucy, Jack é o médico do sanatório e o aspirante a marido de Lucy, embora saiba que ela é rica demais para as suas posses. É muito curioso, tem uma mente relativamente aberta e procura a todo o custo entender a mente dos seus pacientes malucos, ele quer perceber o funcionamento e a lógica de pensamento (vê-se isso quando ele faz as suas gravações e quando fala com o Mr. Reinfield). É muito racional, contudo, e isso vê-se na sua fé no Dr. Van Helsing e na certeza em chamá-lo para vir tratar de Lucy.



Mr. Renfield
Quero falar dele por ser um catalisador para a história e por ser uma personagem bastante lúcida na sua loucura. Ele está convencido do poder do Master (Drácula) e venera-o. Para além disso, sente vontade de ser vampiro como ele. É incrível a sua fé e a sua capacidade de devoção.






Van Helsing
O maluco-mor da história. Mas no bom sentido. É uma personagem bastante cómica e badass ao mesmo tempo, ele é que manda, ele é que sabe, ele é o comandante da expedição para perseguir o Drácula. É um homem com conhecimentos e que gosta de um bom desafio e leva tudo com sentido de humor e paixão. Também me parece um homem vivido e compreensivo.

Interpretação
A meu ver, todo o elenco é muito bom e coeso, parece que foram escolhidos a dedo para cada personagem e parece que os atores nasceram para aqueles papéis. Há atores que se destacam mais do que outros. O Gary Oldman, o Anthony Hopkins, a Sadie Frost e o Tom Waits são perfeitos nas suas interpretações. O Anthony Hopkins deve ter-se divertido à brava com este papel, porque se reflete no filme. E o Gary Oldman mostra o seu talento ao conseguir fazer vozes diferentes, o sotaque e trazer o charme ao mesmo tempo que oferece terror com a mesma personagem. O Tom Waits é bom a interpretar o Mr. Renfield e a puxar pela interpretação do Richard Grant nas cenas entre o Renfield e o Dr. Jack. É muito bom a mostrar loucura. A Sadie Frost consegue trazer as várias facetas de Lucy ao de cima.

Guarda-roupa
A guarda-roupa deste filme é bastante interessante porque, tal como a fotografia, traz uma grande carga simbólica, traduzida principalmente pelas cores. É um guarda-roupa que me faz lembrar o teatro e as peças mais trágicas. O vestuário na parte do filme respeitante à época de Jonathan e Mina tem cuidado em ser semelhante ao que era usado em termos realistas. Na época de Elisabetha o vestuário é mais fantasioso e imaginativo. A armadura do Drácula nessa parte é fenomenal, com a fisionomia de musculatura presente. A Mina e a Elisabetha aparecem vestidas de verde, para mostrar uma certa pureza (Lucy também acaba por aparecer com um vestido verde). O vermelho surge aqui como símbolo do sangue, da luxúria, do desejo. Basta ver as partes em que as personagens femininas aparecem vestidas dessa cor e é uma das cores principais do Drácula, juntamente com o dourado, no seu momento de glória.
Quando Drácula rejuvenesce e aparece dizendo-se príncipe, o vestuário adequa-se ao poder económico que um príncipe teria.
O cenário do asilo e o Mr. Renfield apresentam um conjunto de outfits bastante interessantes e originais.

Fotografia
A fotografia é muito importante para dar a vida, o tom e o terror necessários a este filme. Dá o toque sombrio, às vezes só tem a luz minimamente necessária, no castelo usa muitas velas. Tal como o guarda-roupa, a fotografia serve para trazer simbologia ao filme, através das cores. Muitas vezes nos surgem cenas em que a luz predominante é a vermelha. E será escusado voltar a falar no simbolismo da cor, principalmente tendo em conta que estamos perante um filme de vampiros.

Montagem
A montagem é mais notada nas transições mas também serve para criar truques de efeitos especiais e ilustrar os pontos de vista de algumas personagens, assim como introduzir planos de pormenor. Há muitas sobreposições de imagem que aparecem para gerar efeitos especiais e transições. 

Efeitos Especiais
São surpreendentemente simples e funcionam muito bem. O Coppolla foi buscar ao teatro e ao cinema-mudo muita coisa e acho que prova que não é preciso inventar muito ou usar muita tecnologia moderna para criar algo agradável e que tenha sentido na história. A cena da batalha feita com sombras ficou bem e poupou recursos. Além de que deu uma atmosfera trágica e sombria ao campo de batalha. Adoro particularmente o truque da sombra do Drácula e o truques das mulheres do Drácula a surgirem de dentro de uma cama.

Realização
Este filme tem muitos movimentos de câmara e acaba por ser um filme pouco parado. Temos transições de planos através de formas similares sobrepondo as imagens, temos muitos planos de pontos de vista e muitos planos de pormenor, que se tornam um bom meio de nos mostrar o ponto de vista de um vampiro. Nos diálogos aparecem as duas personagens no mesmo plano, com a habitual montagem plano-contraplano. Dito assim, parece que a realização não tem nada de especial, mas o trabalho de realização está bem feito e transmite o que pretende passar e é um filme cheio de terror, erotismo e ação. Destaco a cena do jardim zoológico em que o lobo foge, pelos movimentos de câmara que ajudam a criar a confusão e loucura que está latente nos animais.

Banda Sonora
A banda sonora deste filme é feita por um polaco, o que a meu ver acaba por ser uma boa escolha, por ser alguém da Europa e da zona leste, que pode trazer mais fielmente a atmosfera necessária ao filme. Esta banda sonora fica no ouvido e ilustra muito bem o filme. Aponto a sequência inicial até aparecer o nome do filme, a banda sonora começa logo em apoteose. Esta banda sonora é de tal modo conhecida que a série American Horror Story já a introduziu na sua banda sonora (e quem já viu o filme é capaz de a reconhecer).

Nota: aconselho vivamente a ver o filme com os comentários do realizador, principalmente para quem gosta/estuda cinema. Aprende-se muito sobre os efeitos especiais e a visão do realizador.

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