Matar gatas e ser feliz

Parece incongruente, mas no Minho matar a gata é bom sinal! Calma, para quem não está a perceber, é tudo em sentido figurado, não andamos por aqui a matar os animais e a festejá-lo!

A gata, na gíria dos universitários bracarenses e vimaranenses,
vem significar aquilo que outros considerarão ser um "chumbo". Matar a gata significa ultrapassá-la, seja porque não se deixou cadeiras para trás, seja por ter ido a recurso, exame ou ter feito a cadeira de novo e os resultados terem sido positivos.

Ora então, matar gatas é motivo de festa. Todos os anos se mata uma e eu estou prestes a assistir ai velório de mais uma para a incontável lista. Aliás, até é contável. Há referências ao enterro da gata em 1889, tempo em que ainda não havia UM, mas sim dois liceus aqui em Braga que, curiosamente, captavam o espírito académico que vivemos nos nossos dias. Como o Salazar não gostava muito de animais (ou de chumbos, ou de festas, ou simplesmente de gatas), algumas vezes não permitiu esta celebração. Será que, no fundo, era tudo inveja, já que ele estudou em Coimbra?

Ora o que me parece curioso, até mesmo engraçado, é que o enterro da gata já é uma celebração centenária e contudo a tradição permanece, adaptando-se aos nossos dias, um pouco. Aliás, este ano o tema é "a gata está verde", aludindo ao verde dos recibos que nos esperam e que caracterizam a geração à rasca, ao verde de raiva por estarmos nesta situação, mas também ao verde da esperança que, visto que nos tiram tudo o que podem com esta crise e esta falta de emprego, é a única coisa que não nos podem tirar.

Curioso será também a tradição das tunas, que ainda é mantida na Europa. As tunas são o que resta dum tempo chamado Idade Média, no qual as universidades consistiam não em lugares físicos, mas lugares psicológicos. Eram grupos de estudantes que seguiam um professor, escolhendo quem seguir, mudando quando quisessem. Alguns deles vagueavam pela Europa. Ora para viajar era necessário arranjar dinheiro e então os goliardos, nome atribuído aos estudantes viajantes, usavam as técnicas das cantigas de amor, amigo e de escárnio e maldizer e cantavam para ganahr a vida. Mas claro que a este espírito está associada a boémia. Portanto, eles além de cantar e de fazer serenatas iam juntos para as tascas. E é espantoso como esta tradição já é milenar e continua a ser algo relevante na vida académica e até reconhecido.

E depois ainda dizem que a nossa juventude está a esquecer-se das suas tradições. As tradições para subsistir têm de se adaptar aos tempos.

E concluo com uma questão que me é pertinente. Porquê fazer as queimas das fitas e o enterro da gata e o enterro (caso de Aveiro) em Maio, quando o ano lectivo acaba em Julho? Acho que é cedo demais para os estudantes comemorarem o facto de acabarem o curso ou de passarem de ano quando nem fizeram as provas todas das cadeiras todas. Acho que o melhor seria fazer em Junho... Até porque há muita gente fora das universidades que vai aos concertos e se calhar a afluência seria maior nessa altura.

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